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João Alisson
João Alisson

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O impacto da IA na saúde

O que já é realidade e o que vem por aí

Falar de inteligência artificial na saúde já não é falar de futuro. É falar do que está acontecendo agora, em hospitais, clínicas e laboratórios — inclusive no Brasil. A questão deixou de ser "isso vai funcionar?" e passou a ser "como vamos implementar?".

Onde a IA já está fazendo diferença

Algumas aplicações já saíram do campo experimental e entraram na rotina. O Hospital Albert Einstein, por exemplo, opera com cerca de 120 algoritmos em diferentes áreas, desde o suporte ao diagnóstico até a gestão operacional de leitos. O hospital desenvolveu o projeto Watcher, que usa dados e IA para detectar precocemente a piora clínica de pacientes internados, com meta de reduzir em 50% as transferências tardias para UTI.

O Sírio-Libanês utiliza inteligência artificial desde 2018 e já colhe resultados concretos. Um dos modelos em funcionamento é a "Agenda Inteligente", criada para reduzir faltas em exames de ressonância magnética. Outra ferramenta de IA acelera a realização desses exames, gerando uma eficiência de 20% — o paciente fica menos tempo na máquina e o equipamento é liberado mais rápido.

No campo do diagnóstico, a startup Onkos desenvolveu o mir-THYpe, um exame baseado em inteligência artificial que diagnostica nódulos de tireoide com alta precisão. A tecnologia já é utilizada por parceiros como Einstein, Sírio-Libanês, A.C.Camargo, Fleury e Rede D'Or. Um estudo publicado no The Lancet Discovery Science demonstrou que o teste evitou cerca de 75% das cirurgias desnecessárias, gerando economia significativa ao sistema de saúde.

A Sofya, startup nascida no núcleo de inovação do Sírio-Libanês, desenvolveu uma solução que une plataforma de voz e IA, permitindo que médicos e enfermeiros reduzam em mais de 40% o tempo de preenchimento de formulários assistenciais. Desde o lançamento, a solução já impactou a vida de mais de 40 mil pacientes.

Os benefícios que já conseguimos enxergar

O impacto mais visível é a agilidade. Diagnósticos que levavam dias podem ser acelerados. Processos administrativos que consumiam horas de trabalho manual agora rodam em minutos. A pesquisa TIC Saúde 2024 revelou que, em média, 17% dos médicos no Brasil já utilizam tecnologias de IA em sua prática profissional, com tendência de crescimento.

Isso se traduz em redução de custos operacionais, mas também em algo menos tangível e igualmente importante: mais tempo do profissional de saúde para olhar nos olhos do paciente, ouvir, cuidar.

Os desafios que ainda temos pela frente

Nem tudo são avanços. A evolução da IA na saúde brasileira é percebida como desigual, com o setor privado liderando o movimento, enquanto o setor público enfrenta escassez de recursos. As principais lacunas apontadas são relacionadas à qualidade dos dados e à falta de regulação específica.

Para a IA funcionar bem, ela precisa de dados organizados. Como destacou o diretor de tecnologia do Sírio-Libanês: "Se o dado não está organizado, não tem como aplicar inteligência artificial de maneira produtiva". Além disso, a LGPD exige cuidado redobrado com informações de pacientes, e existe a questão da confiança: profissionais e pacientes precisam entender como essas ferramentas funcionam para aceitá-las.

O papel de quem lidera

Adotar IA na saúde não é apenas uma decisão de tecnologia. É uma decisão de gestão, de cultura, de estratégia. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028 prevê investimento de R$ 23 bilhões até 2028, com foco em modernizar o SUS através de IA, incluindo prontuário falado, otimização de diagnósticos e detecção de anomalias em procedimentos.

Gestores não precisam virar especialistas em machine learning, mas precisam entender o suficiente para fazer as perguntas certas, avaliar fornecedores com critério e preparar suas equipes para essa transição.

O que fica?

A inteligência artificial vai continuar evoluindo e ampliando seu espaço na saúde. Isso é inevitável. O que ainda está em aberto é como cada organização vai se posicionar nessa mudança: como expectadora ou como protagonista. A resposta a essa pergunta começa a ser construída agora.


Referências

  1. Convergência Digital - Hospital Albert Einstein: algoritmos, IA e inovação salvam vidas (Jan/2025)

  2. CNN Brasil - Uso de dados e IA pode reduzir transferência de pacientes para UTI (Set/2024)

  3. Poder360 - IA pode melhorar diagnósticos, diz diretor do Sírio-Libanês (Jul/2024)

  4. O Novo Normal - Veja como grandes hospitais do Brasil usam inteligência artificial (Mai/2024)

  5. Startups - Onkos prevê economia de R$ 385M na saúde por exame com IA (Mai/2025)

  6. Agência FAPESP - Onkos: teste molecular evita cirurgias desnecessárias de tireoide

  7. Startups - Criada no Sírio-Libanês, Sofya usa IA para otimizar raciocínio digital na saúde (Jan/2024)

  8. CTC Tech - Inteligência artificial na saúde: Exemplos de IA na medicina (Set/2025)

  9. Medicina S/A - Panorama da Saúde Digital 2025: a revolução da IA na saúde (Mar/2025)

  10. IBIS Bio - IA na Saúde Pública: Avanços, Lacunas e Oportunidades do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (Jun/2025)

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